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ENTREVISTA: Lincoln Berrocal, o brasileiro de 61 anos que superou o Dakar 2020

A 42ª edição do rali Dakar encerrou no dia 17 de janeiro, deixando para trás dezenas de participantes e histórias incríveis. Entre as mais interessantes está a do brasileiro Lincoln Berrocal, paranaense de 61 anos que concluiu os quase oito mil quilômetros de areia, pedras e estradas na Arábia Saudita.

Mais velho entre os 147 inscritos nas motos, tinha um objetivo claro para sua segunda participação na maior prova off road do mundo: concluir todas as etapas. Além de cumprir a missão, o empresário ainda conseguiu figurar entre os 50 mais rápidos em alguns dias da competição, algo notável para um atleta amador e piloto independente.

Mas nem só dos louros da vitória vive Lincoln. Durante os 11 estágios, ele teve de encarar várias pedreiras – com destaque às dunas com mais de 200 metros de altura -, rodar sem o pneu traseiro em uma das etapas e a temperatura extrema do Oriente Médio.

Confira a entrevista!

 

BRMX: Você foi o único brasileiro a disputar o Dakar 2020 na categoria motos, além de ter sido o mais velho… E conseguiu cumprir o seu objetivo de completar a prova! Mais que de lhe dar os parabéns, quero saber qual a emoção diante de tudo isso, afinal de contas, você foi recebido com festa por seus amigos na chegada a Curitiba.

Lincoln: Não só dessa edição, mas acredito que sou o mais velho a terminar um Dakar em toda sua história. Me saí bem, consegui pilotar solto, tranquilo, muito concentrado e obtive um resultado acima das minhas expectativas. Ao longo das etapas tive o carinho de muitas pessoas. Recebia centenas de mensagens todos os dias, de gente de vários países, me incentivando, dizendo que estavam torcendo por mim. Toda essa energia foi emocionante e me rendeu um ânimo fantástico, crucial para conquistar o objetivo. Já a chegada no aeroporto foi uma grata surpresa. É ótimo saber que temos bons amigos torcendo para que tudo dê certo com a gente.

 

 

BRMX: Você fez a sua estreia no Dakar 2019, mas não conseguiu completar a prova. Que lições você tirou da edição do ano passado que te ajudaram a completar a prova neste ano?

Lincoln: Com certeza, a lição mais aprendida foi a necessidade de ter um bom equipamento. Ano passado usei uma moto mais leve, mas ela acabou não ficando a contento, tive vários problemas, inclusive alguns de autonomia que me exigiram um número absurdo de paradas para reabastecimento. Em 2020 optei por uma KTM 450 Réplica, especialmente projetada para o Dakar. Assim, com a moto em condições ideais, pude me preocupar apenas com a pilotagem.

 

 

BRMX: E como foi essa edição do Dakar na Arábia Saudita? Ano passado foi no Peru, outro país, outro continente. Quais diferenças mais foram sentidas por você nesta mudança que a prova teve de um ano para o outro?

Lincoln: As diferenças são realmente grandes, a começar pelo frio. Passamos muito frio. Quando saíamos pela manhã, às 4h, a temperatura ambiente era de -1ºC, mas a 120 por hora a sensação despencava para até -30ºC. As mãos congelavam e era muito difícil esquentá-las para o início das especiais. Outro porém foi o terreno. Na Arábia Saudita houveram trechos com muitas pedras soltas, dunas e rios secos. Já a terceira maior diferença foi a presença da comunidade local. No Peru a população foi muito participativa, ia até a concentração, ficava às margens das ruas para assistir, para torcer, incentivar. No Oriente Médio, infelizmente, tinha pouquíssimo público acompanhando.

 

 

BRMX: Sabemos que você é empresário, possui uma joalheria e tem o esporte apenas como hobby. Como você faz para conciliar a rotina de treinos com a vida profissional? Acredita que teve alguma dificuldade maior no Dakar por ser piloto amador?

Lincoln: A rotina de empresário é extensa, por isso acredito que não treinei como deveria. Foquei na parte física porque sabia que seria a mais exigida, e então fiz treinos, trilhas, motocross, academia, bicicleta. Na verdade, tinha que fugir da empresa no meio da semana para treinar e também dedicava um bom tempo para isso aos finais de semana.

 

 

BRMX: E quais são os planos daqui para frente? Já está pensando no Dakar 2021?

Lincoln: Por enquanto não há planos, afinal quero curtir esse momento de realização pessoal ao máximo. Completar o Dakar era um desafio pessoal e estou muito feliz em realizá-lo. No Peru fiquei com a sensação que não pude terminar por causa do equipamento e queria ver se isso realmente era verdade, saber até onde iria com a moto certa. Mas, claro, vou continuar andando de moto, que é minha paixão. Também tenho vários convites para competir no Brasil, na Europa, em Dubai, mas agora quero só descansar e curtir essa fase. Aproveito a oportunidade para agradecer a todos que torceram por mim e me apoiaram, em especial a Pro Tork por acreditar no projeto.

Fonte: BRMX