[Crônica] Lingüiças Calabresas

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Ricardo
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Registrado em: 13 Janeiro 2006 à39 01:27

[Crônica] Lingüiças Calabresas

Mensagem por Ricardo »

E ai pessoal...

Eu li na Zero Hora (Jornal famoso da região sul do Brasil /RS-SC) desse Domingo uma crônica (ou seria um diálogo?) muito interessante do Luis Fernando Veríssimo, que com um tom de humor mostra como estamos hoje em dia, visto que a cada semana aparece um escândalo novo de corrupção, ligação com tráfico, assaltos, etc. e resolvi compartilhar com a galera do fórum!

Meio comprida mas para quem gosta, vale a pena ler. :D

Abraços.
Luis Fernando Veríssimo escreveu:
Lingüiças Calabresas


- Alô?
- Quem fala?
- Quem quer saber?
- Quem é, por favor?
- Diga você sabe quem é.
- O Dr. Márcio está?
- Quem quer saber?
- Está ou não está?
- Depende.
- Depende do que?
- De quem quer saber.
- É o...
- Espere! Qual é o assunto?
- O assunto é com o Dr. Márcio.
- Pode dizer para mim.
- Mas quem é você?
- Primeiro me diga quem é você.
- Aqui é o...
- Não use seu nome verdadeiro!
- Por quê?
- Use um pseudônimo.
- Que história é essa?
Por que pseudônimo?
- Podem estar gravando.
- Quem?
- E eu sei?
- Dr. Márcio é o senhor?
- Não. Meu nome é... Deixa-me ver... Balduino.
- Você se chama Balduino?
- Claro que não, é pseudônimo. Invente um também.
- Isto é ridículo.
- Eu vou desligar.
- Está bem! Frajola.
- "Frajola"?!
- Jaime! Jaime!
- Muito bem, Jaime. E qual é o assunto?
- É com o Dr. Márcio.
- Pode me dizer que eu transmito pro Márcio. Que também é um pseudônimo, claro.
- "Márcio" não é o nome do Dr. Márcio?
- Depende do assunto.
- É sobre o pacote que ele encomendou do...
- Espere! Não fale assim tão claramente. Use linguagem figurada.
- É. Em vez de pacote diga coisa. Não, "coisa" pode ser mal interpretada. Diga "encomenda".
- A encomenda que ele encomendou do...
- Não diga o nome!
- Por quê?!
- Não queremos incriminar ninguém.
- Mas não há crime algum!
- Isto vai depender da interpretação. Esta conversa já está pra lá de suspeita.
- Eu só queria avisar ao Dr. Márcio que as lingüiças chegaram.
- As lingüiças. Boa, boa. O pseudônimo de "encomenda".
- Não! São lingüiças mesmo.
- Um pacote de lingüiças?
- É, calabresas. Que o Dr. Márcio encomendou do... De alguém.
- Já entendi! Já entendi tudo. Você é que está gravando esse telefonema. Esta conversa toda é para me incriminar. Ou incriminar o Márcio. Pseudônimos, linguagem figurada.... Já vi tudo! Amanhã ela sai no Jornal Nacional e é óbvio que “pacote de lingüiças calabresas” vai parecer código.
- Mas foi você que sugeriu os pseudônimos, a linguagem figurada, o...
- Arrá! Vocês não me pegam. Nego tudo! Aliás, nem sou eu falando. Provem que sou eu.
- Quer saber de uma coisa, seu Balduino? Pra mim chega. O recado está dado. As lingüiças chegaram. Passar bem!
- Espere! Agora me lembro. As lingüiças que eu encomendei. Calabresas... Claro, claro. Me lembrei.
- É o senhor, Dr. Márcio?
- É. Claro, claro, sou eu. Desculpe. Sabe como é, a gente vai ficando meio paranóico...
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